Pablo!
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Música

7 músicas que você ama e tem vergonha de assumir

Matheus Brant lista os pagodes, axés e arrochas que ele adoraria regravar um dia
Escrito por Vinicius Felix
5 min de leituraPublicado em
O mineiro Matheus Brant é um fã declarado de pagode, axé e arrocha. No seu trabalho mais recente, o álbum “Assume Que Gosta”, ele criou músicas pensando nas letras e melodias desses estilos, porém jogou nelas uma produção mais contemporânea, pensando muito no que andam fazendo nomes como Céu, Tulipa Ruiz, Cidadão Instigado. Além das próprias composições, Matheus repensou a faixa “Abandonado”, uma gravação original do Exaltasamba.
Matheus Brant

Matheus Brant

© Daniel Iglesias/Divulgação

A ideia deixou a gente curioso. Que outros sons nessa linha o cara regravaria? Matheus topou o nosso desafio no dia que batemos um papo e pensou em sete faixas que ele adoraria repensar nos moldes do “Assume Que Gosta”.
Além dos bons comentários e de contar o que faria com cada faixa, a listinha do Matheus acabou virando uma playlist daquelas recheadas de música que uma turma enorme ama ouvir escondidinho.
Assume que gosta com a gente, vai.

“Out door” - Só Pra Contrariar (Beto Corrêa / Jorge Cardoso)

"Poderia escolher várias do “pagode anos 90”, gênero ao qual tenho me dedicado nos últimos anos em função da criação do Bloco Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro, mas gosto especialmente de “Out-door”. Acho que os metais feitos com teclado, recurso típico dessa época, ao lado da batida mais cadenciada, quase um samba-rock – o que, aliás, o SPC herdou do Raça Negra, grande influência declarada do grupo mineiro - e a verdade que a letra transmite são os aspectos que mais mexem comigo nessa música. Penso em um arranjo afrobeat para ela, como a banda do bloco Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro já vem, inclusive, fazendo"

"Pura Adrenalina” - Belo (Prateado / Léo Dias / Alexandre Lucas)

"Gosto muito do tipo de melodia dessa música que é ao mesmo tempo sinuosa e cadenciada, como as músicas do Djavan. Além disso, a letra é simples, direta e ainda consegue tocar num ponto sensível das relações amorosas: “Você tá fugindo dessa adrenalina / Que é o tempero da paixão”. É isso mesmo: a paixão tem muito a ver com a adrenalina que ela ao mesmo tempo desencadeia e da qual é fruto, por isso, talvez a sensação de vício que ela nos causa. Além disso, tem ainda o verso “Aceita assumir de vez essa vontade louca” que resume esse exercício que estou fazendo aqui de assumir a vontade de gostar e regravar essas músicas"

“Estrela Primeira (Amor eu fico)” - Banda Beijo (Jal / Pierre Onasis / Jauperi)

"Essa é a mesma situação da “Out-door” (inclusive também tem os teclados fazendo as vezes dos sopros): poderia ter escolhido várias do axé anos 90, mas fiquei com essa porque gosto muito do segundo refrão que ela tem e que dá a sensação de levar a música para outro caminho: “Tô na varanda, amor / Me pega nos braços, me leva para cama que eu vou”. Esse “tô na varanda” também me traz a imagem daqueles sobrados históricos de Salvador...Por fim, esse tom menor em que ela começa - assim como acontece com outros vários axés – sempre me chamou muita atenção pelo paradoxo que ele encerra: a melodia é triste, mas o ritmo é animado...fico pensando se tem a ver com alguma herança da escravidão..."

“Mal acostumado” - Araketu (Ray Araújo e Meg Evans)

"Uma pena essa música ter tocado tanto gerando uma saturação no nosso ouvido porque ela tem uma melodia muito bonita e da letra, destaco esse verso: “E quando faz carinho me abraça/ Aí eu fico de graça / Te chamando pra me amar”. Acho demais esse jogo com o duplo sentido da palavra “graça”: o amor é “de graça” (ficamos desarmados), e é também uma “graça”. Regravaria a letra em espanhol para acentuar o drama que a música transmite"

“Me chama que eu vou” - Sidney Magal

“Essa é bem caribenha, latina e por isso quente. A letra vai no mesmo sentido e me lembra muito a música “Assume que gosta” que fiz com o Rodrigo Torino: “Te sinto por dentro / Te levo na palma da mão / Te toco no centro / Te abro tesão”. O que mais me atrai nela é o fato de ela ficar bem em cima do muro do bom e do mau gosto! Essa oscilação provoca, interessa. Acho que é a mesma dinâmica que há entre a adrenalina e a paixão cantada no pagode “Pura Adrenalina”. Os teclados substituindo os metais estão aqui novamente!”

“Corazón Partío” - Alejandro Sanz

“Mais um caso em que a exaustão com que a música foi executada pelas rádios acaba criando uma resistência às belezas que ela possui. A melodia é linda, principalmente, no trecho “Quién llenará de primaveras este enero”, quando acontece uma pequena inflexão nas notas. Quanto à letra, é tipicamente dramática como são as canções latinas. Gosto especialmente desse verso “Quién (...) bajará la luna para que juguemos ?”...Me lembra um pouco Pablo Neruda. A versão que temos aqui no Brasil é da Ivete Sangalo e é muito parecida com a original. Acho que ela merecia uma regravação totalmente diferente, desconstruída talvez…”

“Fui fiel” - Pablo

"Gosto muito de arrocha, sobretudo, quando a gravação é com bateira eletrônica. O verso “Lembrei que me acordava de manhã só pra dizer /“Bom dia, meu bebê! / Te amo, meu bebê!” é tão brega que acaba soando sincero e trazendo uma verdade boa de se ouvir. Além disso, o trecho “foi bonito foi, foi intenso foi” é, pra mim, melodia e letra, uma síntese do brega. Talvez fosse o caso de uma versão como a que o Celso Fonseca fez com “Se ela danço, eu danço”...não sei...teria que experimentar"