Ayana Amorim
© Helen Salomão
Música

A origem do clipe de “Baiana”, do Emicida

O diretor Moysah conversou com a gente sobre como foi tocar sua primeira direção de um videoclipe
Escrito por Vinicius Felix
5 min de leituraPublicado em
- O que você acha de fazermos alguma coisa com a música "Baiana" ? Acho que esse som merece.
Foi com uma pergunta simples e uma afirmação sincera que Moysah tentou convecer Emicida a fazer mais um clipe do material de “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa…”, álbum lançado em 2015 com 14 faixas e que já rendeu 7 vídeos ( “Passarinhos”, “Mufete”, “Boa Esperança”, “Mãe”, “Madagascar”, “Chapa” e “Mandume”).
A resposta do rapper não poderia ser melhor. “Tem show marcado na Bahia. E aí, vamos?”.
Assim começou a correria para produzir o clipe que seria a primeira experiência de Moysah na direção - até ali, sua experiência com clipes era na direção de fotografia ou fazendo a captação de imagens.
Na cabeça dele, a ideia inicial para o vídeo era quase uma tradução literal da letra escrita por Emicida. “Queria retratar o amor no momento em que ele é descoberto, sabe quando você descobre que está apaixonado?”. Aí chegou um áudio do Emicida, co-diretor do vídeo, que definiu o rumo da ideia inicial.
- Mano, e se fossem duas meninas? Vamos olhar para essa causa.
“Na hora eu percebi que esse clipe seria especial, eu tinha uma música incrível nas mãos e uma causa extremamente sensível e linda. A partir da aí comecei a roteirizar”, conta Moysah, que já trabalha com o Emicida há praticamente um ano, o que criou um laço de amizade entre os dois.
“Como a música é um homem cantando pra mulher baiana, para quem assiste o pensamento é óbvio de ser uma história hétero, é o que se espera. Mas se você prestar bem atenção, desde as primeiras cenas é possível notar que é uma mulher na visão da primeira pessoa, tem uma delicadeza nos movimentos, as mãos são finas, não tem pelos nos braços, porém, inconscientemente, pelo áudio de uma voz masculina cantando, não se espera que seja uma mulher”, complementa.
“Acredito que todo clipe precisa te fazer sentir algo complementar a música, é sensacional quando conseguimos tirar o espectador da zona de conforto e gerar surpresa, isso é uma coisa que tenho estudado bastante, como fugir do que se espera”.
Moysah
Com uma boa história no papel, o desafio seguinte foi fazer o registro durante o Carnaval baiano. A produção do clipe foi entre o domingo e a terça-feira, com a equipe indo trabalhar a partir das 4 da manhã, geralmente quando muita gente começava a voltar pra casa após tanta festa.
“Parte muito importante nesse processo foi a produção local da Sista Katia, que agilizou muita coisa nas gravações. Em conjunto, ela, Marina Santa Helena e Emicida fizeram o Casting e com certeza acertaram em cheio em escolher a Ayana Amorim e Dandhy Braz, são pessoas apaixonantes e profissionais incríveis”.
Além da direção, Moysah aparece nos créditos como responsável pelo roteiro de fotografia, edição e finalização - um acúmulo de funções de quem foi atrás de aprender tudo pra lidar com uma área competitiva. “O mercado cada vez mais vai abraçar os profissionais que cheguem ao resultado esperado (ou que superem as expectativas) com a estrutura mais enxuta possível. No clipe, éramos em 10 pessoas contando com as atrizes. Como fiz tudo na captação, já sabia exatamente o que precisava fazer nas locações e na edição. Em 2 dias entreguei 2 versões de corte e a cor do clipe foi feita no quarto do hotel em Salvador. Acredito que cada vez mais o tempo é um diferencial, dá pra fazer rápido e bem feito se estiver focado”.

Moysah: de onde veio e para onde vai

A trajetória do jovem diretor tem uns 8 anos, mais ou menos o tempo em que ele começou a mexer com fotografia. Primeiro começou pegando câmera emprestada com os amigos, depois foi se interessando pelo assunto até ir estudar fotografia na Escola Panamericana de Artes em São Paulo. “Comecei a entender a fotografia como profissão, até que um dia li uma matéria sobre filmes feitos com DSLR, que era a câmera que eu tinha em mãos, e a partir daí a fotografia começou a ganhar movimento e com a internet as coisas ficam mais fáceis de entender, aprender e compartilhar”.
Nos últimos três anos, Moysah trabalhou muito na área. “Tive a oportunidade de trabalhar com grandes profissionais do ramo, como Hugo Haddad e a galera da Fine e sou muito grato por isso. Também passei pelos vários estágios, do produtor independente até os eventos sociais, casamentos, festas e etc”. Hoje, além de trampar com Emicida na Laboratório Fantasma, Moysah também trabalha com conteúdo para a Red Bull e na Pilli Mídia, sua base no dia a dia. “Por lá todos os dias temos trabalho, seja pra dirigir, editar ou até mesmo produzir do zero, viramos uma família mesmo. Conheci o André Pilli no meio do ano passado e de cara nos identificamos muito um com o outro, aí mostrei algumas coisas que eu tinha feito e veio o convite para ser Diretor de Fotografia na Pilli Mídia. Desde então estamos gerando conteúdos com pessoas incríveis e muito influentes nas plataformas digitais como Kéfera, Christian Figueiredo, Felipe Castanhari, entre outros. Esse ano muitas coisas boas estão por vir”.