Marcia Novo
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Música

A Amazônia pop de Marcia Novo

Conheça a trajetória da cantora que descobriu em São Paulo a importância de se resgatar ritmos típicos amazonenses, como o Beiradão
Escrito por Evandro Pimentel
5 min de leituraPublicado em
"Caboca parintinense" é como se refere a si mesma Marcia Novo, cantora de voz rouca e arretada do tamanho do Amazonas. Produtora ativista da cultura amazônica, Marcia nasceu na ilha Tupinambarana (AM), mas ficou só alguns dias por lá, antes de mudar-se para Manaus. “Quando eu tinha uns 14 para 15 anos, minha irmã tinha um namoradinho que tocava violão. Ele me ensinou os primeiros acordes e eu naturalmente comecei a cantar.Uma prima minha me ouviu tocando e cantarolando e disse que eu deveria fazer algo nos meus 15 anos. Ensaiei umas cinco músicas, cantei na festa em inglês, tudo errado, mas tava bonito, todo mundo aplaudiu no final. (risos)”
Não demorou para a carreira musical de Marcia começar. No ano seguinte, ela foi morar nos Estados Unidos, mas, assim que chegou, gastou quase metade dos dólares que tinha para ficar lá durante seis meses em uma guitarra e uma caixa de som. Para tentar recuperar a grana, participou de um show de talentos com prêmio em dinheiro. “Cantei “Me Chama”, do Lobão. Fui superaclamada, a galera curtiu pra caramba, e eu voltei para o Brasil como cantora mesmo”.
De volta a Manaus, Marcia se apresentou em casas lotadas, abrindo shows de nomes como Seu Jorge, Monobloco, Maria Gadu e Preta Gil. Logo, começou a ficar conhecida do público e dos produtores e lançou seu primeiro disco. Na época, foi apresentada ao Samba-Rock por uma amiga que havia conhecido o ritmo no Sul e, como resultado, o álbum ‘Simplesmente Novo” foi marcado pela combinação de MPB e Samba-Rock.
“Foi quando conheci o Marco Bosco, o primeiro produtor musical que me deu um norte. Ele me viu em um show e disse ‘Menina, tu é boa, mas tem que ir embora daqui’, e disse ainda que eu tinha que produzir meu segundo disco com o Paulo Calasans.” Em 2012, Marcia mudou-se para Campinas (SP), estudou canto e teatro e, seis meses depois, gravou “Amazônia Pop”, álbum "com uma pegada mais World Music" produzido por Paulo Calasans e Marco Bosco. “Comecei a viajar por cidades do estado de São Paulo para divulgar o trabalho e foi bacana ver como as pessoas têm respeito pela Amazônia.”
Depois de quase um ano divulgando “Amazônia Pop”, Marcia conheceu o produtor Wilson Souto. “Trocamos a maior ideia, entreguei meu CD pra ele e ele me ligou algumas horas depois me perguntando ‘Cadê aquela energia daquela menina que eu vi? Cadê a Amazônia?’”. Depois da conversa, a cantora voltou para Manaus com “olhos de saudade”, enxergando a riqueza nas coisas que sempre fizeram parte de seu dia-a-dia. E foi com esse olhar que Marcia lançou seu terceiro disco, "O Novo Som do Beiradão", no qual transcorre entre o boi-bumbá, a cumbia, o brega, o xote e pelo som do Beiradão – música popular dos bailes de beira de rio, no Amazonas, com influência caribenha.
Atualmente, a "caboca" radicada em São Paulo demarca uma nova fase em sua carreira voltada aos beats eletrônicos. O novo momento da cantora e compositora inclui também uma parceria com o selo indie Freak, que assina o lançamento dos seus próximos singles.
Marcia dá nome aos bois e intitula a música que produz atualmente, como "Beira-Beat" – mistura de Beiradão com beats eletrônicos. Tendo como referência o movimento do mangue-beat, que nos anos 90 revelou toda uma geração da música recifense, a cantora destaca a música autoral que vem sido produzida no estado do Amazonas e seu momento de ebulição. “Quero fazer a Amazônia ser mais escutada. Tá na nossa hora.”
O marco dessa nova fase de Marcia Novo é o lançamento da música "Subindo Pelas Paredes", uma regravação produzida por Manoel Cordeiro – prestigiado produtor musical da Amazônia, que por muitos anos esteve à frente da banda Kaoma, grupo clássico da lambada brasileira – de um clássico do brega amazonense que tornou-se hit na voz de Nunes Filho. A escolha da música é oportuna e um serviço para a música do Amazonas, já que o "Príncipe do Brega" não acompanhou os desdobramentos da internet e a gravação original do hit não está disponível para a audição na web – há apenas vídeos no Youtube com versões ao vivo em programas de auditório.
O single "Subindo pelas paredes" ganha também um videoclipe (confira no player acima) que narra a história de um amor quente entre um casal apaixonado, exaltando a figura da mulher cortejada e do homem apaixonadamente brega. Flertando com o brega e o pop, o clipe surfa a onda que cresce entre a nova geração e que exalta o conceito "tosco" no qual o gênero brega sempre foi identificado. Além de Nunes Filho, o videoclipe conta com a participação de outras personalidades igualmente importantes da música amazonense: Klinger Araújo e Carlos Batata, do Boi-bumbá, e Jucynha Kero-Kero do Forró.
Quero fazer a Amazônia ser mais escutada. Tá na nossa hora.
Marcia Novo