Red Bull BC One Camp Brazil 2022
© Little Shao / Red Bull Content Pool
Dança

Maia: 'Meu sonho é ver mais igualdade no breaking'

A bicampeã nacional do Red Bull BC One fala sobre vida e carreira
Escrito por Evandro Pimentel
6 min de leituraUpdated on
O ano era 2018, e o Red Bull BC One Brazil realizava pela primeira vez uma disputa feminina. Entre as participantes da Final Nacional estava Júlia Maia Macedo, que competia com o nome de B-Girl Maia. Não foi longe, saiu da disputa logo na primeira batalha. Em 2021, lá estava ela de volta, mas desta vez só parou nas semifinais. Ela poderia ir mais longe?
A resposta foi dada no dia 31 de julho de 2022. Maia, então com 28 anos, chegou ao topo e ficou com o troféu da Final Nacional. No ano seguinte, foi convidada a participar da Final Mundial em Paris e colocou o nome do Brasil entre as melhores B-Girls do mundo. E ela não parou mais: no dia 4 de agosto de 2024, conquistou mais uma vez o título da Final Nacional do Red Bull BC One Brazil.

+ Reveja abaixo a Final Nacional do Red Bull BC One Brazil 2024.

"Nesses últimos dois anos passei por tanta coisa que essa vitória pra mim significou uma reviravolta na minha vida, uma conquista pessoal, como um abraço de mim comigo mesma, e ao mesmo tempo sei também que foi o resultado de muita dedicação, esforço e foco", diz a brasiliense, que agora vai disputar a Last Chance Cypher, torneio que decide as vagas derradeiras para a Final Mundial do Red Bull BC One, marcada para dezembro de 2024 no Rio de Janeiro – os ingressos já estão à venda 🔥.
"Minha preparação para esta Last Chance Cypher será parecida com como tem sido nesses últimos meses, muito treino, preparação física e ainda com a vantagem de poder participar de competições em eventos internacionais na Europa nos próximos meses. Eu sinceramente acredito ter grandes chances de subir mais uma vez no palco da Final Mundial e vou me esforçar pra isso", conta Maia.
"A Final Mundial é uma experiência única e o convite para ser parte disso [em 2023] foi um reconhecimento mundial do trabalho que venho desenvolvendo com a minha dança", continua a B-Girl. "Subir naquele palco gigante foi incrível e muito importante, não só pra mim, mas pra toda a cena de B-Girls do Brasil, pois quando uma de nós chega ali é a prova de que no Brasil somos fortes e temos breaking de alto nível para competir num mundial como esse. Lembro de subir no palco e pensar, 'era mesmo pra eu estar aqui'”.
B-Girl Maia posa para retrato durante a Final Mundial do Red Bull BC One 2023 na Ponte Alexandre III em Paris, França, em 17 de outubro de 2023.

Maia representou o Brasil na Final Mundial do Red Bull BC One 2023 em Paris

© Thinh Souvannarath/Red Bull Content Pool

Como você entrou no breaking e o que mudou depois disso?

B-Girl Maia: O breaking já estava presente na vida de alguns amigos meus e em alguns espaços que eu frequentava, mas acho que me encantei mesmo depois de assistir a uma batalha na minha cidade, quando vi pela primeira vez uma dupla de B-Girls muito boas batalhando de igual pra igual com os B-Boys. Pouco tempo depois conheci o B-Boy Katatal, que foi quem realmente me ajudou a aprender nesse início.

Quais dificuldades você enfrentou pra ser B-Girl profissional?

B-Girl Maia: Acho que a maior delas é se manter dançando, sem estrutura, com poucas oportunidades de trabalho, poucas perspectivas e, principalmente, poucas mulheres na cena, porque um espaço majoritariamente dominado por homens é muitas vezes um espaço superdesconfortável.

Red Bull BC One Camp Brazil 2022

B-Girl Maia

© Tauana Sofia / Red Bull Content Pool

O breaking te desafia a se conhecer e a olhar pra tudo o que te faz ser quem você é.
B-Girl Maia

E quais foram suas maiores conquistas?

B-Girl Maia: A possibilidade de viajar pra fora do meu estado e do meu país, conhecer culturas diferentes, me conhecer, ser reconhecida pela minha dança, compartilhar com mestres e mestras da cultura e poder inspirar outras mulheres. Também pude construir o meu próprio espaço de treino e fazer parte da primeira seleção de breaking do Brasil.

Como é a sua rotina hoje e como a dança se encaixa nela?

B-Girl Maia: A dança faz parte 24 horas da minha vida, porque eu acredito que tudo que eu danço é tudo o que eu sou. Assim, tudo pode ser inspiração e tudo pode virar dança. Nos últimos meses tenho conseguido me dedicar mais ao breaking. Eu e meu companheiro Allef construímos juntos um espaço de treino em frente de casa, a céu aberto, e ali treinamos quase todos os dias. Além disso, quatro vezes na semana faço um fortalecimento pro corpo.

Red Bull BC One Camp Brazil 2022

B-Girl Maia e B-Boy Allef

© Tauana Sofia / Red Bull Content Pool

Qual foi um episódio com as batalhas que marcou a sua vida?

B-Girl Maia: O camarim das B-Girls no Red Bull BC One Brazil me marcou. Faz uma enorme diferença em como tudo vai acontecer, a maneira com que as B-Girls se fortalecem ali antes de entrarem no palco é algo que me marcou pra vida. Ali estamos compartilhando um momento único para todas nós, afinal a categoria B-Girl é nova e uma conquista pra cena do mundo todo. Então o fato de estarmos juntas ali é algo que só nós sentimos e entendemos.

O que mudou na sua vida depois de vencer seu primeiro Red Bull BC One?

B-Girl Maia: Acho que uma das grandes mudanças na minha vida depois de vencer o meu primeiro Red Bull BC One foi conquistar o reconhecimento e respeito da cena nacional, pois esse evento é o maior que temos no Brasil e o nível é sempre muito alto. Além disso pela visibilidade que teve o evento pude ganhar ainda o respeito de pessoas que estão fora da cena do breaking, e até mesmo de pessoas próximas como os meus familiares, amigos e vizinhos.

B-Girl Maia em acão durante a Final Nacional do Red Bull BC One Brazil 2024

B-Girl Maia em acão durante a Final Nacional do Red Bull BC One Brazil 2024

© Fabio Piva / Red Bull Content Pool

Como você avalia a cena breaking brasileira hoje?

B-Girl Maia: Está com muita força no Brasil e acredito que o fato de o breaking ser agora uma modalidade olímpica tem dado uma visibilidade ao movimento muito importante.

Quais são seus maiores sonhos?

B-Girl Maia: Quero ganhar mais experiência, principalmente no cenário internacional, e conseguir trabalhar mais com o breaking, como competidora e artista. Acho que meu maior sonho é viver o momento em que o breaking será um movimento mais igualitário e colorido, onde B-Boys e B-Girls existam numa mesma quantidade, recebendo a mesma premiação e em que pessoas LGBTQIAPN+ da nossa cultura possam estar seguras pra assumir sua sexualidade sem nenhum problema.

Quais são seus planos para o futuro?

B-Girl Maia: Meus planos para o futuro são muitos, mas principalmente, poder dar uma melhor qualidade de vida pra mim e pra minha família através do meu trabalho, inspirar pessoas do mundo todo, fazer o cenário feminino de breaking crescer muito e ter saúde para dançar pra sempre.

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