Esqui Alpino
Como Lucas Braathen faz história pro Brasil no esqui alpino
Conheça mais aqui sobre a história e carreira do primeiro brasileiro medalhista de ouro da Copa do Mundo de Esqui Alpino .
Lucas Pinheiro Braathen sempre se destacou. Filho de pai norueguês e mãe brasileira, o esquiador alpino cresceu entre culturas, continentes e expectativas diferentes. Ele frequentemente se descreve como um forasteiro e é fácil entender por quê.
Antes de completar 22 anos, o atleta já havia mudado de casa 21 vezes, inclusive várias vezes pro outro lado do Atlântico. Foi difícil construir amizades duradouras ou um senso fixo de pertencimento. Suas abertura e ousadia, influenciadas pelo Brasil, às vezes entravam em conflito com a cultura mais reservada da Noruega.
Celebrado como uma das estrelas em ascensão mais brilhantes do esqui alpino depois de ganhar o título da Copa do Mundo de Slalom em 2023, Lucas surpreendeu o mundo esportivo quando anunciou sua aposentadoria no mesmo ano.
"Cheguei a um ponto em que senti que havia perdido o motivo pelo qual comecei a esquiar", explicou ele. "Eu precisava me afastar. Precisava de tempo pra estar comigo mesmo, sem um caminho definido ou uma carreira a seguir, antes de escolher minha próxima direção."
Cerca de seis meses depois, Lucas redescobriu esse senso de propósito e anunciou seu retorno. Ele retornou ao esqui competitivo no outono de 2024, mas desta vez escolheu representar o Brasil em vez da Noruega, abraçando a herança que molda sua identidade: "É o início do maior projeto de minha vida". E é um projeto que continua em ritmo acelerado, com o astro do slalom conquistando sua primeira vitória na Copa do Mundo FIS sob a bandeira brasileira em novembro de 2025, feito inédito pro país
Então, quem é Lucas Pinheiro Braathen? Como ele se tornou o primeiro esquiador brasileiro a vencer uma etapa da Copa do Mundo de Esqui Alpino? A história a seguir mostra os principais momentos que definem sua carreira.
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De Oslo ao Brasil: um começo multicultural
Lucas nasceu em Oslo, Noruega, filho de pai norueguês e mãe brasileira. Seus pais se separaram quando ele tinha três anos, e o garoto voltou ao Brasil com sua mãe, antes que seu pai obtivesse a custódia, levando-o de volta à Noruega. No entanto, ele nunca se esqueceu de suas raízes sul-americanas. Desde os 11 anos , eu volto ao Brasil uma vez por ano. É metade de mim".
A influência da cultura do país é clara. Enquanto crescia, ele sonhava em jogar futebol e imitar um de seus heróis, Ronaldinho Gaúcho.
Quando seu pai, um "chamado vagabundo de esqui que se mudava de estação de esqui em estação de esqui sempre que conseguia um novo emprego", o apresentou pela primeira vez ao esporte, Lucas não ficou inicialmente convencido. "Eu inventava todo tipo de mentira", lembra ele. "Eu lhe disse: 'Sou brasileiro, não está no nosso sangue. Vou ficar doente se for exposto a essas temperaturas. Meus pés foram feitos pra a praia e não pra botas de de cano duro'."
Mas um dia, aos oito anos, ele viu um grupo de esquiadores na montanha e sua vida mudou pra sempre. "Fiquei impressionado com a velocidade com que eles estavam indo. Disse ao meu pai que também queria fazer isso. No final daquele inverno, eu gostava tanto de treinar que não queria parar", disse ele ao "Red Bulletin" em 2023.
Embora tenha encontrado sua nova paixão nas pistas, a vida fora delas não foi fácil. A constante agitação envolvida no trabalho de seu pai significava que ele "nunca se sentia em casa em lugar algum".
Na época, ele odiava isso e tentava se adaptar - "eu adotava o sotaque local, imitava o comportamento deles" - mas quando chegou à escola secundária, desistiu de tentar: "Eu mudava minha personalidade, meu sotaque, meus interesses com tanta frequência pra depois perdê-los. Então, parei e aprendi a ser eu mesmo".
Agora, ele é extremamente grato por ter descoberto sua própria personalidade em uma idade jovem e sua experiência o moldou dentro e fora das pistas.
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O caminho pra vitória na Copa do Mundo
Depois de descobrir o esqui aos oito anos de idade, Lucas logo ficou viciado.
Durante uma viagem de treinamento em grupo em uma geleira em um verão, ele descobriu, pela primeira vez na vida, que não era um estranho. "A viagem reuniu noruegueses de todas as diferentes partes do país. Todos falavam em um dialeto estranho que os outros não conheciam. De repente, era legal ser diferente. Foi por isso que me apaixonei por esse esporte", diz ele.
No outono seguinte, depois de uma viagem à geleira Hintertux, ele pendurou definitivamente as chuteiras. "Eu sonhava em me tornar o melhor do mundo, mas queria ser o melhor do mundo em um esporte que me permitisse ser eu mesmo."
Lucas Braathen: prata na Copa do Mundo de 2022 em Kitzbuhel, Áustria
© Samo Vidic/Red Bull Content Pool
Em 2016, ele estava competindo no Campeonato Nacional Júnior da Noruega e sua primeira vitória veio apenas um ano depois. Seu grande avanço veio em 2018, no entanto, nos campeonatos nacionais noruegueses. Lucas, de 18 anos, terminou em segundo lugar no slalom gigante, dois centésimos de segundo atrás do primeiro colocado e à frente de nomes consagrados e futuras estrelas como Henrik Kristoffersen.
O tetracampeão olímpico Kjetil André Aamodt observou o desempenho de Lucas e recomendou que a equipe nacional começasse a trabalhar com ele o mais rápido possível. O resto, como dizem, é história.
No mesmo ano, ele fez sua estreia na Copa do Mundo, terminando em 26º lugar. Apenas 12 meses depois, ele se anunciou no cenário mundial ao liderar o campo no slalom de Kitzbühel, antes de terminar em quarto lugar. Na sequência, seu ouro no GS na abertura da temporada 2020-21 foi a prova de que ele havia chegado.
Se destacar da multidão não é novidade para Lucas Pinheiro Braathen
© Johann Groder / Red Bull Content Pool
Uma lesão interrompeu o restante da temporada, mas ele voltou em forma para 2021-22, vencendo o slalom em Wengen e somando mais três pódios pra terminar em quarto lugar no slalom e no slalom gigante, e em nono no geral.
O ímpeto estava claramente crescendo, e a temporada de 2022-23 consolidou seu lugar como um dos melhores esquiadores alpinos do mundo, com o título geral da Copa do Mundo de Slalom de 2023.
Depois da parada em 2024-25, Lucas voltou com o mesmo talento e ímpeto de antes e garantiu cinco pódios na Copa do Mundo.
Mas faltava um ouro. E ele chegou na abertura da temporada de slalom 2025-26 em Levi, Finlândia. Lucas se tornou o primeiro esquiador brasileiro a vencer uma etapa da Copa do Mundo de Esqui Alpino da FIS.
Refletindo sobre a execução do hino brasileiro para marcar sua vitória, ele disse: "Essa é uma música que eu cresci ouvindo durante os jogos de futebol que me inspiraram a começar a praticar esportes e agora poder ser a razão pela qual essa música é tocada em uma ocasião de sucesso, representando a mesma nação onde eu desenvolvi meu amor pelo esporte".
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Estilo dentro e fora das pistas
Lucas é tão conhecido por suas façanhas fora das pistas quanto dentro delas. Ele adora viajar pelo mundo, é DJ, vai a exposições de amigos, gosta de moda e desenha roupas --uma de suas marcas nas competições são as mangas e as botas que veste.
"Quando comecei a competir como profissional e ganhei em nível internacional, sempre fiz questão de subir ao pódio com minhas botas de caubói. Elas eram um lembrete de onde eu vim e uma parte de como me tornei o atleta."
"Quando a temporada de esqui termina, tenho que me afastar da minha vida de esportista profissional o mais rápido possível pra voltar motivado mais tarde. Cada dia que passo com amigos, que posso ser eu mesmo, vestir-me de forma feminina, surfar, andar de skate ou ir a uma exposição é uma experiência que também me ajuda no meu esporte."
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O próximo capítulo brilha em verde e amarelo
Depois de anunciar seu retorno ao esporte sob a bandeira do Brasil, Lucas estabeleceu para si mesmo algumas ambições elevadas.
"Espero que o fato de eu mostrar que posso colocar o Brasil no mapa em um esporte de inverno incentive pessoas de países que não são bem representados a ousar", diz.
Para Lucas, as unhas pintadas que ele também usa não são uma declaração de moda ou uma tendência passageira. Elas são uma declaração de identidade.
"Quero mudar esse esporte sendo eu mesmo. Não quero ter que controlar minha personalidade só porque o sistema espera que eu o faça e espero que dessa forma eu possa servir de inspiração para alguém", explica ele.
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