Gaming
Até onde você iria para trazer alguém que ama de volta à vida? Os fãs de Shadow of the Colossus já devem estar familiarizados com tamanho dilema, quando jogaram o título original em 2005 no PlayStation 2, ou seu remaster para PlayStation 3 em 2011. Muitos são os fãs desse, que é um dos mais belos jogos de plataforma já feitos até então.
O que dizer então de um Remake completo? Quando o anúncio foi feito na E3 de 2017, diversos fãs foram à loucura e muito foi dito e questionado sobre a releitura do querido jogo da Team Ico (responsáveis por Ico e The Last Guardian). Agora sob a responsabilidade da Bluepoint Games, a nova versão de Shadow of the Colossus está disponível desde no último dia 6, e continua a mostrar que algo que aparentemente tão simples pode ser tanto belo como profundo.
A missão
No jogo, você está na pele do jovem Wander, que precisa explorar uma terra proibida, superar os obstáculos em seu caminho e assim conquistar seu único objetivo: trazer sua amada de volta à vida. Para tanto, você utilizará principalmente sua espada mágica – que guiará seus passos até o próximo destino – e seu fiel cavalo, Agro.
O problema, claro, são os obstáculos. 16 deles ao todo. Cada um deles é personificado pelos colossos, seres massivos que precisam ser vencidos graças ao pacto feito entre você e uma voz misteriosa conhecida como Dormi. De acordo ela, se todos forem derrotados, Mono, sua amada, será ressuscitada.
O jogo
Entendido o drama, chega o momento de explorar o vasto universo de Shadow of the Colossus. Basicamente, você precisa utilizar sua espada para encontrar o caminho até o próximo colosso, matá-lo e repetir isso outras 16 vezes. Vença a todos e fim de papo.
Por mais que isso pareça simples – e soe até enfadonho –, saiba que é exatamente o contrário. As mecânicas de combate de cada um desses "chefões" são bem diferentes, por mais que, resumidamente, a mecânica principal seja sempre escalar os colossos e acertar seus pontos vitais. Afinal, os cenários são completamente diferentes a cada batalha e seus adversários são gigantescos e totalmente diferentes – principalmente em suas formas: enquanto um é bípede e usa uma espada, outros lembram animais, como aves, cavalos, camaleões, etc. Por isso, é necessário pensar em uma estratégia, explorar suas fraquezas e superar seus limites para derrubá-los. E esses são apenas alguns dos elementos que fazem esse jogo brilhar.
Shadow of the Colossus na verdade é um dos títulos de plataforma mais elaborados que já colocamos as mãos. A forma com que você precisa entender o funcionamento de cada batalha, sem nenhum tutorial, sem saber ao certo onde estão os pontos vitais dos monstros e como eles reagem ao serem ameaçados e atingidos, faz desse um dos maiores desafios de emoção, paciência e habilidade para qualquer jogador. Vencer os titãs é uma prova de superação pura. Ok, o jogo pode não ser perfeito (pois, infelizmente, alguns dos problemas da câmera, vistos nas versões anteriores, ainda existem), mas certamente chega bem perto disso.
A reflexão
Shadow of the Colossus é mais que um jogo, é uma experiência.
© Bluepoint Games / Sony Interactive Entertainment
Agora que sabemos o que é preciso para trazer Mono de volta, e antes mesmo de enfrentar o primeiro colosso, temos um vasto mundo pela sua frente. O que já era lindo (mesmo com as limitações de hardware do PS2, ou até do PS3) agora foi incrivelmente melhorado. Várias vezes paramos de prestar atenção no percurso apenas para apreciar belas paisagens, e imaginamos como algo tão grande e vazio pode ser tão completo e bonito.
E o que pode ser mais cativante que a jornada do herói, em busca de salvar seu grande amor e, para tanto, livrar o mundo de temíveis monstros que ameaçam um reino?
Todavia, você precisaria ser o herói desse conto. Afinal, qual a garantia que essa não é a terra dos Colossos, onde eles vagavam pacificamente, sem incomodar a ninguém, até que você invadiu seu território e os atacou? Essas são questões que nos colocaram a pensar se realmente somos o lado correto dessa narrativa. Pior, não há como protestar. Não temos uma opção para demandar respostas sobre o resultado de nossas ações com Dormi ou alguma outra forma de entender se realmente Wander, na verdade, comete atos de vilania.
Sua missão é derrotá-los, não importa as consequências…
© Bluepoint Games / Sony Interactive Entertainment
Uma forma de protesto seria parar de jogar, nunca mais tocar no controle, e não executar as magníficas criaturas que habitam tão vasto continente. Porém, outra pergunta surge em nossas mentes: quem disse que Wander se importa com esses questionamentos? Sua determinação para alcançar seu objetivo é tamanha que chega a ser cega, mesmo com toda "aura negra" que entra em seu corpo a cada colosso derrotado.
A necessidade que temos de chegar ao final da história, de saber se é possível trazer seu grande amor de volta do mundo dos mortos, nos faz, assim como o protagonista, a querer passar por cima de tudo e todos – o que não é nada fácil – até conquistar aquilo pelo que estamos tão determinados.
E poderíamos passar horas com diversas outras indagações: é correto derrotar os colossos? Seriam 16 vidas por uma? Vale seguir seja lá quem (ou o que) é essa misteriosa voz e obter o que desejamos? Não seríamos, então, cúmplices de Wander?
Talvez finalmente seja mais fácil entender porque um jogo com mais de 13 anos, e com outras duas versões, é tão aclamado e desejado por praticamente todos aqueles que já jogaram antes. E nem mencionamos as coisas que acontecem com Wander no desenrolar de sua missão ou como tudo termina… Se você nunca jogou, precisa presenciar isso com seus próprios olhos.
As novidades
Apesar de sermos apresentados a um novo colecionável – moedas secretas, não vistas nas versões anteriores (que desbloqueiam uma conquista e algo a mais, quando todas as 79 existentes forem coletadas) –, e um interessante 'Photo Mode', para registrar os melhores momentos de sua aventura, a novidade mais notável é o trabalho artístico desse remake.
O que trabalho realizado aqui é algo que precisa e merece ser vislumbrado. Detalhes incrivelmente realistas casam perfeitamente com a vastidão do universo criado para esse novo título. Não foi simplesmente o ato de incrementar o jogo anterior e trazer uma resolução melhor. O temos aqui mostra uma prefeita – e merecida – homenagem ao trabalho que imortalizou o significado desse jogo para todos os seus fãs.
Esse remake funciona com o objetivo de lembrar que não se trata de uma aventura de ação e pancadaria. Suas batalhas necessitam de inteligência para superar o adversário, e todos os elementos ao redor foram desenhados para que isso aconteça de forma inesquecível. O acabamento, a iluminação, os elementos em tela, a movimentação – de Wander, Agro, dos gigantes, da natureza e todos os elementos ao seu redor –, tudo funciona de forma harmoniosa. O que antes era vazio foi preenchido, cada detalhe foi pensado de forma a adicionar ainda mais beleza, e o resultado final é a melhor experiência de jogo até hoje.
Se você nunca jogou Shadow of the Colossus, seja bem-vindo. Nunca houve um momento melhor para conhecê-lo.
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