Star Fox 2 é o jogo que nunca deveríamos jogar. Originalmente agendado para lançamento ainda em 1995 no velho e bom Super Nintendo - SNES para os mais íntimos -, esse antecipado exemplo de jogo de ação 3D para consoles foi arquivado sem cerimônias pela Nintendo, apesar de estar pronto para publicação.
Contudo, os veteranos dos video games estão acertando as coisas, ao incluir a aventura perdida de Fox McCloud no SNES Classic Mini, inserindo um dos maiores jogos arquivados da história em um dos maiores temas da Nintendo em 2017. E isso é grande se você considerar o sucesso do Switch em seus seis primeiros meses de vendas.
Um homem que tem todos os motivos do mundo para comemorar essa virada de eventos é o programador e desenvolvedor britânico, Dylan Cuthbert, que não apenas trabalhou no Star Fox original e em Star Fox 2, como também esteve envolvido em Star Fox Command, no Nintendo DS, e o remake de 3DS de Star Fox 64. Apesar dessa forte conexão com a franquia, Cuthbert – que agora comanda o estimado estúdio japonês Q-Games – não recebeu nenhum tratamento especial quando o anúncio da ressureição de Star Fox 2 foi feito.
"Eu descobri no dia," nos contou Cuthbert. "Eu não tenho nenhum acordo atual com a Nintendo, então não há meios oficiais para eles me contarem, e eles obviamente queriam fazer disso um grande segredo."
Originalmente um empregado da Argonaut Software no Reino Unido, Cuthbert envolveu-se com a Nintendo quando o fundador da Argonaut, Jez San, fechou um acordo no início dos anos 90 para criar um chip especial que poderia ser inserido nos cartuchos de SNES e dar os músculos 3D que o console precisava.
O chip foi batizado de Super FX e daria poder ao revolucionário Star Fox de 1993, famoso por ser o primeiro passo real da Nintendo no mundo das três dimensões. Estrelando um time de pilotos especiais antropomórficos, Star Fox comandou jogadores a atirar em diversos inimigos através de diversos planetas, mas era limitado pelo fato de seus estágios serem inteiramente lineares, restringindo o jogador a viajar em uma única direção. Não obstante, ele foi consagrado como um clássico na época de seu lançamento e até hoje permanece sendo surpreendentemente jogável e cativante.
O chip Super FX também ajudou a trazer títulos como Super Mario World 2: Yoshi's Island, Stunt Race FX e uma série de outros títulos 16-bit para o mercado, onde todos se beneficiaram do aumento de poder fornecido que ele trazia. Uma variante atualizada do chip supostamente também seria lançada nos cartuchos de Star Fox 2, com a sequência sendo posicionada como a forma ideal para decolar o amado SNES. Star Fox 2 abandonou a estrutura linear de seu antecessor, oferecendo, ao invés disso, um design mais aberto, onde cada simples vez que você jogasse seria levemente diferente.
"Eu me lembro que nós começamos a experimentar com o modo para dois jogadores, que eventualmente foi descartado, e também pelo fato do Super FX Chip 2 ser duas vezes mais poderoso que nós começamos a experimentar o modo de total alcance, ao invés da forma mais afunilada da jogabilidade original", explicou Cuthbert quando perguntado sobre o objetivo da Nintendo com a sequência altamente antecipada.
Ele também acha que, apesar da passagem do tempo, Star Fox 2 irá encontrar uma audiência receptiva nos jogadores de hoje – puramente porque ele é bem diferente do original. "Eu acho que existem muitas ideias de jogo lá que não foram realmente exploradas na franquia Star Fox até então; há, obviamente, um elemento estratégico, como também uma espécie de elemento Rogue-like na forma com que os encontros e a história são automaticamente e aleatoriamente geradas. Cada vez que você joga, você terá uma experiência diferente, criada por centenas de arenas feitas à mão e quebra-cabeças."
Então por que a Nintendo arquivou um jogo tão inovador? Cuthbert nunca recebeu uma razão apropriada, mas ele tem uma teoria. Ela conta com o fato que o Sony PlayStation e o Sega Saturn tinham acabado de chegar ao mercado no final de 1994, fazendo o SNES parecer positivamente fraco – mesmo com a ajuda adicional do hardware do Super FX 2.
Acho que lançá-lo agora significa que nós podemos jogá-lo com um maior filtro de nostalgia, sem toda a bagagem mental da corrida pela tecnologia 3D que estava acontecendo na época.
"O chip FX tinha simplesmente ficado para trás na corrida pela tecnologia 3D," ele diz. "As coisas estavam avançando em um ritmo acelerado naquele momento. Eu tinha jogado muito no PlayStation; nós tínhamos um no escritório da Nintendo e todo o time de Star Fox 2 jogava no intervalo do almoço e à noite. Era ou o [produtor veterano de Star Fox] Takaya Imamura ou o [criador de Animal Crossing] Katsuya Eguchi que liberava a Lamborghini preta em Ridge Racer primeiro, mas todos estávamos tentando!"
"Então, nós meio que sabíamos que a qualidade de 3D que tínhamos em Star Fox 2 – e no chip Super FX em geral – tinha sido ultrapassada, e que isso significava que não seria muita surpresa, provavelmente mais um alívio, se nós não pudéssemos ser comparados. Acho que lançá-lo agora significa que nós podemos jogá-lo com um maior filtro de nostalgia, sem toda a bagagem mental da corrida pela tecnologia 3D que estava acontecendo na época.
"Eu acho que é incrível que as pessoas possam jogar um jogo que eu tinha perdido as esperanças," ele continua. "Apenas há alguns meses atrás alguém estava me perguntando se eu achava possível que ele seria lançado e eu enfaticamente disse não. Estou feliz que eu estava errado. Trabalhei nesse jogo quando era muito jovem e sempre ficava triste por ele nunca ter saído depois de tanto trabalho duro."
Enquanto Star Fox 2 perdeu a fama e fortuna dos anos 90, sua influência foi, no entanto, sentida de outras formas, mostrando que todo o trabalho de desenvolvimento trouxe algum benefício.
"Nós ressuscitamos muitas das ideias para Star Fox Command no Nintendo DS," revelou Cuthbert. "Esse foi um pedido direto do [lendário visionário da Nintendo] Shigeru Miyamoto, que realmente queria ver mais experimentação no mundo de Star Fox, do que apenas refazer a versão original do Nintendo 64. Ele pensou que foi uma pena que ele não poder lançar Star Fox 2 em seu tempo e basicamente queria nos empurrar mais naquela direção. Imamura estava em Star Fox 1 e 2, então ele empurraria muitas ideias para o Star Fox 64, que ele dirigiu."
A crescente da emulação nas últimas décadas viu uma série de protótipos de Star Fox 2 chegarem à web, com fãs dedicados chegando ao ponto de lançar essas ROMs não-oficiais em cartuchos próprios do SNES, até com embalagens autênticas para eles. A má notícia para esses talentosos indivíduos é que a ROM disponível online está inacabada e não representa a versão final do jogo.
"Eu só dei uma breve olhada na ROM, mas elas são duras e desbalanceadas, sem nenhuma segurança de qualidade" disse Cuthbert. "O processo de qualidade da Nintendo também dá acabamento à jogabilidade e age como um grupo de foco – o chamado 'Mario Club'. A versão final será muito mais sintonizada e bem mais divertida, acredito eu."
Espero que eles continuem fazendo isso, como também espero que a Sony siga o modelo em alguns anos, com um mini-PlayStation
Cuthbert também é um grande fã de aparelhos como o SNES Classic Mini, e acha importante que eles venham para preservar o passado dos jogos. "Acho ótimo que os donos das plataformas relancem seus consoles antigos em embalagens como essa," diz ele. "É muito difícil encontrar consoles antigos e cartuchos que funcionem, e isso só vai piorar. Espero que eles continuem fazendo isso, como também espero que a Sony siga o modelo em alguns anos, com um 'mini-PlayStation' que também tenha uma série de jogos pré-carregados."
Como o restante de nós, Cuthbert está esperando pacientemente pelo lançamento do SNES Classic Mini, uma vez que infelizmente ele não recebeu nenhuma unidade antecipadamente, por ser um ex-funcionário. Não que ele fosse ter uma quantidade massiva de tempo para poder jogar. Seu estúdio, a Q-Games, tem trabalhado ao lado da Nintendo e da Sony no passado, com uma série de títulos aclamados, incluindo PixelJunk Shooter, X-Scape, The Tomorrow Children e Nom Nom Galaxy.
"Estamos lançando um jogo VR de zumbis mastigadores de hamburgers, Dead Hungry, no PSVR para a América do Norte e Europa nos próximos meses, e nós temos Eden Obscura saindo para dispositivos móveis também na mesma janela de lançamento, que está lindo e é uma complexa reinvenção de nosso hit de sucesso para PlayStation e Steam, PixelJunk Eden", diz ele.
Diferente de Star Fox 2, ele está bem confiante que esses não levarão um quarto de século para serem lançados. "Nós também temos uma série de projetos secretos que esperamos poder anunciar no início do próximo ano. Fiquem de olho!"
Para mais informações sobre jogos siga a @RedBullGames no Twitter e Instagram e curta nossa página no Facebook.
