Voguing
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Dança

Vogue, 30 anos: a dança que inspirou o hit da Madonna

Estilo revolucionário acolhe, fortalece e empodera a comunidade queer
Escrito por Luana Dornelas e Evandro Pimentel
4 min de leituraPublicado em
* Atualizado em março de 2020.
É provável que muita gente associe "Vogue" a um dos maiores hits da Madonna. E não é à toa: a música, que completa 30 anos neste mês de março, chegou ao topo da paradas em mais de 30 países. Acompanhado de um clipe igualmente icônico, o som ajudou a colocar nos holofotes um estilo de dança surgido nos EUA nos anos 60 e popularizado nos anos 80, quando as comunidades negra, gay e transgênero de Nova York começaram a tomar conta dos salões no bairro do Harlem e a organizar competições de dança.
O nome do estilo (que também pode ser chamado de "voguing") foi inspirado na revista de moda "Vogue", já que dançarinos brincavam de imitar as poses das modelos mostradas na publicação e faziam movimentos corporais marcados por linhas e poses, como em uma sessão de fotos. O movimento, que desde o início surgiu como um ato de empoderamento de minorias, se tornou uma revolução.
A drag queen Crystal Labeija foi a precursora do movimento. Revoltada depois de participar de um concurso de drags que teve como vencedora uma competidora com padrão eurocêntrico – veja abaixo cena no filme "The Queen" (1968) que mostra este momento –, ela se questionou sobre o fato da competição nunca ter sido vencida por negras ou latinas (que muitas vezes eram proibidas até de participar).
Depois disso, Crystal organizou um espaço direcionado para essas minorias e fundou em 1966 a House of Labeija, a primeira house de voguing.
As houses de vogue são grupos que funcionam como famílias. Cada uma tem sua hierarquia própria, com pai e mãe, podendo chegar a ter até avôs e avós, que cuidam dos filhos e netos, ensinando a eles sobre a importância de ser uma comunidade. Aliás, é contribuindo com a comunidade que se recebe um título dentro da house.
Desde o início do movimento, como a maioria dos membros eram da comunidade LGBTQIA+, que viviam em situação precária e muitas vezes eram expulsos de casa, as houses se tornaram um lugar de acolhimento onde essas pessoas podiam se unir e encontrar suas próprias famílias. O salão de dança também se transformou num lugar seguro, onde todos podiam se expressar sem julgamentos.
Por ser uma ferramenta diretamente ligada às questões de gênero, raça e classe, o voguing deixou de ser apenas uma referência cultural da comunidade LGBTQIA+ para se tornar também uma importante forma de expressão da comunidade negra norte-americana.
Versões de faixas clássicas de house e da disco como "Love Break Is The Message", do The Salsoul Orchestra, e "Dub Break", de Ellis D, tomavam conta dos bailes. Tudo mudou em 1991, quando os Masters at Work lançaram a música "That Ha Dance", que acabou se tornando um hino ballroom – ouça no player acima.
Nessa altura, o gênero já havia conquistado fama mundial, grande parte graças ao clássico hit da Madonna e ao documentário "Paris is Burning", também lançado em 1990, que retrata toda a efervescência da cena durante os anos 80.
Paris is Burning

Paris is Burning

© Reprodução

Não importa se você é negro ou branco, um garoto ou uma garota. Se a música estiver pulsando, ela lhe dará nova vida.
Madonna ("Vogue")

Kiki e a nova geração

Vinte e cinco anos depois do lançamento de "Paris is Burning", em 2015, a cena evoluiu ainda mais e surgiu a kiki, uma subcultura composta por uma nova geração de jovens artistas e ativistas.
Kiki é uma versão, digamos, mais "modesta" das competições de vogue, nas quais integrantes mais novos praticam antes de competir nos bailes mainstream. Os participantes costumam ser jovens de 12 a 24 anos, que afiam suas habilidades em um ambiente menos intimidante antes de se graduarem para a liga principal.
Twiggy Pucci Garçon, fundadora da maior casa internacional da cena kiki/voguing, a Opulent Haus da PUCCI, dirigiu o documentário "Kiki", que pinta um retrato íntimo dos prós e contras da cena kiki em Nova York.
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