Gravediggaz
© David Corio/Redferns/Getty
Música

Um breve guia dos muitos estilos de hip-hop

Desde os anos 70, o hip-hop gerou muitos subgêneros: conheça a origem de alguns deles
Escrito por Richard Stacey, com adaptação de Evandro Pimentel
9 min de leituraPublicado em
Se tem algo que fãs de hip-hop gostam tanto quanto ouvir um som é discutir sobre o tema. Principalmente sobre o que realmente define o gênero. KRS-One, MC da Boogie Down Productions, disse uma vez que "rap é algo que você faz, hip-hop é algo que você vive", e esse resumão é bastante importante pra entender toda essa conversa.
A maioria dos subgêneros do hip-hop pode ser definida pelo local do artista que o criou e seu estilo de vida, bem como a sonoridade das faixas e os assunto delas. O gênero se desenvolveu de formas fascinantes desde o surgimento, no fim dos anos 70, e aqui vai uma introdução aos estilos vibrantes criados desde então.

Backpack rap

No fim dos anos 90, existiam fãs de hip-hop que rejeitavam a comercialização do gênero. Eram os backpackers, termo que se refere ao fã que usava uma mochila repleta de livros, cadernos de rimas, tintas e vinis e ouvia apenas rap consciente ou underground. Rawkus era um dos selos favoritos dessa galera. Lançou clássicos de artistas como Mos Def e Company Flow antes de ser comprado pela Interscope, cometendo assim um pecado capital. As faixas do rapper El-P e do grupo Run The Jewels também são essenciais pra conhecer esse subgênero do hip-hop, além dos primeiros trabalhos do produtor Madlib – especialmente o álbum "The Unseen".
Por onde começar: Mos Def – "Mathematics"

Boom bap

A base do gênero é aquele "boom" pesado seguido de um "bap" estalado, normalmente em BPM moderadas e sobrepostas ao restante instrumental. Nos primórdios do hip-hop praticamente toda música era boom bap, ainda que o termo não tenha entrado em circulação até os improvisos que fecham "It's Yours", faixa de T La Rock lançada em 1984. Depois disso, vieram os primeiros breakbeats, passando pelas inovações do sampling de Marley Marl, até à era dourada do rap nova-iorquino, quando nomes como DJ Premier, Large Professor e Pete Rock dominavam o cena.
Por onde começar: Gang Starr – "Just To Get A Rep"

Cloud rap

Foi em 2010, depois que o rapper Lil B surgiu com suas músicas de estética flutuante, que o termo cloud rap surgiu e rapidamente se tornou o rótulo para descrever uma nova onda de artistas que favorecia sonoridades atmosféricas abstratas, perfeitas para uma escuta introspectiva no quarto, em vez da percussão mais tradicional do hip-hop. Entre os pioneiros do gênero estão artistas como Clams Casino Main Attrakionz e A$AP Rocky.
Por onde começar: Main Attrakionz – Chuch

Conscious hip-hop

O hip-hop consciente tem suas letras focadas nos problemas sociopolíticos da sua geração, algo que sempre fez parte da história do rap, dos retratos da pobreza urbana de Grandmaster Flash And The Furious Five às meditações sobre dependência química de J Cole. KRS-One, Akala, Dead Prez, Talib Kweli e Boots Riley entram para essa seleção e são reconhecidos tanto como músicos quanto como ativistas, assim como Public Enemy, Paris, X-Clan e Kendrick Lamar, que têm como foco consciencializar as comunidades negras.
Por onde começar: Blackstar – Definition

Crunk

Durante boa parte dos anos 90, crunk era apenas uma gíria para empolgado, aparecendo em faixas como "Player's Ball", do Outkast, ou "Getting Crunk", da lenda do rap Tommy Wright III. Em 1997, Lil' Jon & The Eastside Boyz apoderaram-se do termo no disco "Get Crunk, Who U Wit: Da Album" e ele se tornou sinônimo de beats bem orientados, em uma espécie de proto-trap mais ameaçador, no qual a presença de um rapper improvisando ou gritando frases como "represent your shit, motherf**ker" era algo imprescindível.
Por onde começar: Lil Jon & The East Side Boyz – Get Low

Drill

O drill nasceu na cidade de Chicago em 2011 e, um ano depois, ganhou o mundo com o hino "I Don't Like", de Chief Keef. Esse subgênero pode parecer a mesma coisa que o trap, ao menos musicalmente, mas há uma grande diferença nos temas e na atitude. Enquanto o trap é marcado pela temática e estética em torno da indústria dos narcóticos, o drill foca mais em debater a violência armada e guerras entre gangues, com flows mais agressivos pautados por batidas igualmente agressivas.
Por onde começar: Chief Keef – I Don’t Like ft. Lil Reese

Emo rap

Marcado por atitudes machistas e até agressivas desde seus primórdios, o hip-hop ganhou um lado mai sensível com o lançamento da música "I Need Love", do LL Cool J, em 1997. Estava plantada a semente para o nascimento do emo rap, cujo primeiro disco com grande impacto cultural foi "808s & Heartbreak", do Kanye West, de 2008. Depois veio a vulnerável sedução do Drake e o hedonismo do Future e, nos últimos anos, artistas como Lil Peep, XXXTentacion, Juice WRLD e Lil Uzi Vert incorporaram elementos musicais e líricos de emo rock ao rap e criaram uma nova tendência.
Por onde começar: Lil Peep – Awful Things ft. Lil Tracy

Frat rap

O frat rap celebra o estilo de vida festeiro associado às fraternidades universitárias dos EUA, mas parece ser mais um rito de passagem do que um plano de carreira. Asher Roth, cuja faixa "I Love College" lançou o gênero em 2009, nunca mais fez uma música no mesmo registo. E Mac Miller pode ter ajudado a definir o subgênero no início da sua carreira, mas uma constante evolução artística e criativa levaram o rapper para outras direções.
Por onde começar: Huey Mack - Call Me Maybe (Remix)

Gangsta rap

O gangsta rap é o rap feito por ou sobre gangsters ou músicos afetados pelo estilo de vida gangster e é um dos maiores subgêneros do hip-hop em termos comerciais. Uma das primeiras gravações a falar abertamente sobre o tema foi "PSK", do Schoolly D, em 1986. Dois anos depois, o movimento ganhou notoriedade global e gerou pânico moral com "F**k The Police", dos NWA. Em 1992 veio o disco "The Chronic", do Dr Dre, estabelecendo um domínio gangsta que só cairia em 2007, quando Kanye West bateu em vendas o disco "Curtis", de 50 Cent, com seu "Graduation".
Por onde começar: Dr Dre & Snoop Dogg – Deep Cover

Grime

O grime sempre esteve no centro de um debate: é ou não é hip-hop? Há muitas evidências que sustentam que sim, afinal ele é movido por raps criados na rua por jovens músicos negros, com ênfase em batalhas líricas influenciadas pelo rap americano. Enquanto isso, muitos apontam que as raízes do grime na música britânica de garagem provam que se trata de algo completamente diferente. Mas o próprio hip-hop tem raízes no funk e em músicas de club como o disco, então não dá pra negar que o grime é a mais distinta contribuição do Reino Unido à evolução do hip-hop.
Por onde começar: Dizzee Rascal – I Luv U

Horrorcore

O horrorcore que mergulha nos aspetos mais sombrios do gangsta rap, muitas vezes com uma reviravolta sobrenatural. Bons exemplos são "Phantom Of The Rapra", projeto de Bushwick Bill, membro dos Geto Boys, no qual o horror teatral é o foco, e os primeiros trabalhos góticos dos Three 6 Mafia. Artistas como The Insane Clow Posse e Necro podem fazer o estilo parecer algo meio bobo, mas há obras que são absolutamente essenciais. O catálogo dos Gravediggaz, do álbum de estreia, "6 Feet Deep", ao álbum final, "Nightmare In A-Minor", são projetos que precisam estar nas suas playlists.
Hear it best in: Gravediggaz – Burn Baby Burn

Hyphy

O hyphy nasceu na Califórnia nos anos 90 e foi trilha de festas onde era normal colocar o carro em ponto neutro e deixá-lo andar enquanto o som tocava – e o ápice era quando um carro batia no outro. O nome é um diminutivo de hyperactive e ganhou o mundo quando Mac Dre ter se reinventou como Thizzelle Washington ao longo de 10 álbuns, entre 1997 e 2004, ano da sua morte. Hits de E-40, The Federation, Too $hort, Mistah F.A.B e outros continuaram o legado, que vive até hoje graças às produções de DJ Mustard e novos talentos como Kamaiyah e SOB x RBE.
Por onde começar: Mac Dre – Feeling Myself

Jazz rap

Não ajudou que a vanguarda do jazz rap estivesse em atividade numa época em que o jazz era visto como um gênero de música de meia idade. Apesar disso, A Tribe Called Quest e artistas como De La Soul, Digable Planets e Guru, dos Gang Starr, com a sua lendária série "Jazzmatazz", mostraram que a fusão de hip-hop e jazz não tinha nada de velha. Hoje, o subgênero continua em projetos cada vez mais orgânicos, como "Sour Soul", álbum colaborativo do grupo BADBADNOTGOOD com Ghostface Killah, dos Wu-Tang Clan.
Por onde começar: A Tribe Called Quest – Excursions

Old school

Quando dizemos "old school" normalmente estamos falando de algo que foi lançado durante ou antes da infância do ouvinte. No hip-hop, o termo é mais relativo ao som e espírito da própria infância do hip-hop, desde seu nascimento numa festa comandada pelo DJ Kool Herc, em 1973, até às inovações de scratch de Grandmaster Flash, passando pelos clássicos de Sugarhill Gang, Kurtis Blow, Teacherous Three e Afrika Bambaata.
Por onde começar: Kurtis Blow – The Breaks

Rap rock

Tecnicamente, o primeiro rap rock foi a faixa "Rapture", do Blondie, mas se quisermos ser puristas, temos de referenciar nomes como Run DMC, Beastie Boys e LL Cool J como os primeiros a misturar rap e rock com sucesso. Um denominador comum entre estes artistas é o produtor Rick Rubin, pai do subgênero. Red Hot Chilli Peppers, Rage Against the Machine, Faith No More, Limp Bizkit e Linkin Park foram algumas das bandas que também adotaram flows de rap em suas músicas, e na última década, o rap rock voltou a dar as caras no som de grupos como Death Grips e Show Me The Body.
Por onde começar: Beastie Boys – No Sleep ’Til Brooklyn

Trap

O termo surgiu um Atlanta nos anos 80 para se referir a pontos de venda de drogas, mas o trap só emergiu como conceito próprio em 2003, quando T.I. lançou "Trap Muzik". Em 2005 veio Gucci Mane com "Trap House" e logo depois artistas como Three 6 Mafia, DJ Screw, Mannie Fresh e Shawty Red. A ascensão do trap moderno deu-se, no entanto, com o trabalho do produtor Lex Luger em "Flockaveli", álbum de 2010 e primeiro de Waka Flocka Flame. Hoje, o subgênero domina do hip-hop ao pop, em faixas de artistas como 2 Chainz e Migos e até Selena Gomez e Ariana Grande.
Por onde começar: Waka Flocka Flame – Hard In The Paint
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